Cresce número de acordos salariais com aumento real para trabalhador
De janeiro a junho deste ano, passou para 93% o percentual dessas negociações que terminaram com ganho real (acima da inflação). Esse índice havia recuado para 83,5% em igual período do ano passado. Em 2012, considerado o melhor ano das negociações salarias, chegou a 95,6%.
Somente 2,6% dos acordos do primeiro semestre não zeraram as perdas da inflação. No ano passado, eram 5,8%.
Os dados estão em estudo divulgado nesta quinta-feira (dia 21) pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que analisou 340 negociações salariais de trabalhadores da indústria, do comércio e do setor de serviços com data-base de janeiro a junho.
Os acordos do primeiro semestre também tiveram aumento real médio acima do negociado no mesmo período do ano passado.
Nos primeiros seis meses deste ano, o ganho real médio (acima da inflação) foi de 1,54%, ante 1,08% de igual período de 2013.
Esse é o terceiro maior aumento real médio verificado desde que o Dieese começou a acompanhar em 2008 os acordos salariais dessa série de 340 acordos.
"Apesar da onda de pessimismo e dos efeitos da inflação na economia, os aumentos reais médios foram melhores do que os de 2013", diz Airton Santos, coordenador de atendimento técnico sindical da entidade.
Isso porque, afirma o técnico, a inflação acumulada nos 12 meses anteriores a cada data base ficou em patamar inferior neste ano.
"Para repor a inflação acumulada em abril do ano passado, os trabalhadores precisavam negociar reajustes de 7,22%. Neste ano, o INPC acumulado em abril foi de 5,62%", diz Santos.
Com taxa de desemprego baixa e inflação em menor patamar, o mercado de trabalho continuou aquecido no período, e os sindicatos conseguiram negociar reajustes que ficam acima da inflação.
O melhor ganho real médio foi obtido pelos trabalhadores em 2012, quando os salários tiveram aumento de 2,15% acima da inflação medida pelo INPC. O indicador é mais utilizado pelos sindicatos para negociar reajustes.
MELHORES AUMENTOS
Na indústria, foram os trabalhadores da construção e mobiliário, os metalúrgicos e os empregados das empresas de alimentação os que conseguiram os maiores aumentos reais médios. No comércio, o destaque foi para o ramo de minérios e derivados de petróleo.
Os trabalhadores das áreas de transporte e turismo também conseguiram embolsar os melhores aumentos reais no setor de serviços.
Metroviários, motoristas de ônibus e empregados do setor de limpeza urbana são algumas das categorias que conseguiram aumentos salariais com paralisações e greves que ocorreram antes e durante a Copa do Mundo.
O Mundial, realizado entre junho e julho deste ano, também serviu de fator de pressão para negociar aumento de salário e benefícios para algumas categorias, segundo revelou reportagem da Folha.
"As paralisações bem sucedidas podem ter servido de estímulo para que outras categorias profissionais reivindicassem ganhos salariais maiores", afirma o coordenador.
Dentre os trabalhadores que não conseguiram recuperar o poder de compra no primeiro semestre e tiveram reajustes inferiores ao INPC acumulado em suas datas-base, sete acordos foram negociados área industria l–corresponde a 4,5% das 156 negociações analisadas nesse setor.
A produção na indústria recuou pelo quarto mês consecutivo em junho. Os dados do IBGE mostram perda de ritmo generalizada do setor.
A indústria tem sido afetada pela desaceleração econômica no país, calendário apertado pela Copa, e mais recentemente pela crise argentina e seu impacto no setor automotivo.
Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) também mostraram que a indústria sofre a piora no emprego formal em junho, com fechamento de 28,6 mil postos.
No comércio, dos 46 acordos analisados pelo Dieese, somente um não teve reajuste igual ou acima da inflação. O mesmo ocorre no setor de serviços, em que 138 negociações salariais foram verificadas e somente uma ficou abaixo do INPC.
O QUE VEM POR AÍ
Para o segundo semestre, a tendência é de esses resultados se manterem, de acordo com o técnico.
"Como o mercado de trabalho ainda está gerando vagas, apesar de ter diminuído o ritmo de abertura de vagas, e a inflação, segundo vários indicadores, sinalizar para tendência de queda, os acordos salariais negociados até dezembro devem se manter em patamares semelhantes aos do primeiro semestre", diz Santos.
Petroleiros, bancários, metalúrgicos e comerciários são algumas das categorias profissionais com data-base no segundo semestre que já se mobilizam para obter reajustes acima da inflação em suas campanhas salariais.