Com desigualdades persistentes, mulheres são mais beneficiadas com valorização do salário
São Paulo – Com desigualdades de gênero ainda persistentes no mercado de trabalho, as mulheres continuam sendo as mais beneficiadas pelas políticas federais de valorização do salário mínimo que vigoram desde 2003. Isso porque elas ainda são maioria entre os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos e entre os que estão na informalidade, segundo levantamento feito pelo Dieese.
Do total de pessoas ocupadas no país em 2013, 66,2% das mulheres recebiam até dois salários mínimos contra 56,4% dos homens, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Na faixa dos que ganham até um salário, elas eram 30,7% contra 21,9% dos homens. Apesar disso, as mulheres representam 52% da população brasileira e são responsáveis pelo sustento de 39% das famílias.
“As mulheres, historicamente, ocupam as posições mais precárias e mais vulneráveis do mercado, com os menores salários. A formalização do emprego e a elevação do piso salarial favoreceram muito as mulheres por elas serem a maioria nessas ocupações”, diz a coordenadora executiva do Dieese, Patrícia Toledo.
A política de valorização do salário mínimo, iniciada em 2003, durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu um aumento real de 76% do salário mínimo, aumentando o poder de compra dos trabalhadores. Desde então, pelo menos 5 milhões de mulheres ingressaram no mercado de trabalho e 9 milhões saíram da informalidade.
“A formalização é muito importante, porque protege-as socialmente, com os benefícios da proteção social. Se a trabalhadora não é formalizada e acontece um acidente de trabalho, ela está desprotegida. Sem a formalização ela não tem, por exemplo, direito à licença-maternidade”, diz Patrícia.
Entre 2004 e 2014, a taxa de desemprego reduziu em todo no país, porém, entre as mulheres ela ainda é maior, ficando em 8,7% contra 5,2% entre os homens. Apesar disso, as mulheres seguem apresentando escolaridade superior: entre 2004 e 2013, o percentual de mulheres com oito ou mais anos de escolaridade passou de 48% para 64%, enquanto entre os homens esse índice evoluiu de 37% para 51%.
As áreas em que as mulheres de 25 anos ou mais estão em maior proporção são Educação (83%) e Humanidades e Artes (74,2%), ambas com rendimentos mensais médios considerados baixos (R$ 1.811 e R$ 2.224, respectivamente). Além disso, as mulheres também estão em maior proporção nos empregos nas áreas de comércio e serviço.
“Trata-se de ocupações que apresentam certa mobilidade, facilidade de deslocamento trabalho-casa, jornadas mais flexíveis, sancionando de certa forma o que já havia sido constatado em relação à necessidade de conciliar a jornada de trabalho e as tarefas de reprodução que, em grande parte, estão unicamente sob responsabilidade das mulheres”, destaca o texto do levantamento, apresentado ontem (7), em São Paulo.
As mulheres ainda são responsáveis pela maior parte dos cuidados com a casa. Em 2013, os homens se dedicavam, em média, 42,5 horas semanais ao trabalho principal e apenas dez horas aos afazeres domésticos. Já entre as mulheres foram 37,2 horas semanais de dedicação ao emprego contra 21 horas gastas com os afazeres domésticos.
Assim, elas ficavam com uma jornada total de 58,2 horas contra 52,5 horas dos homens. Essa realidade muitas vezes impede as mulheres de aceitar ou buscar empregos cujo tempo de trabalho não seja de períodos mais curtos, segundo a pesquisa.
Fonte: Sarah Fernandes, da RBA