Chuva não impede Grito dos Excluídos e ato “Fora Bolsonaro” em Porto Alegre
A chuva, que caiu o dia inteiro em quase todo o Rio Grande do Sul, não impediu a realização, nesta terça-feira (7), do 27º Grito dos Excluídos e das Excluídas e o ato “Fora Bolsonaro” em Porto Alegre. As manifestações, inicialmente marcadas para ocorrer junto ao Espelho d’Água no Parque da Redenção, foram deslocadas para debaixo do viaduto da Avenida João Pessoa.
A mudança de local foi definida pela coordenação dos atos, integrada pela CUT, centrais sindicais, frentes Brasil Popular, Povo sem Medo e Povo na Rua, movimentos populares e pastorais sociais da CNBB. Mas o horário da programação permaneceu o mesmo.
O ato ecumênico iniciou às 11h, ao meio-dia teve almoço solidário partilhado com pessoas em situação de rua e por volta das 13h30 começou o ato pelo impeachment de Bolsonaro. A caminhada foi suspensa pela coordenação, mas um grupo de participantes fez uma marcha até o Largo Zumbi dos Palmares.
O Grito dos Excluídos, tradicionalmente realizado no dia 7 de setembro, tem como lema “Vida em primeiro lugar” e o tema deste ano foi “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já”.
As entidades levaram cruzes para lembrar as quase 600 mil vidas perdidas na pandemia por culpa da política genocida de Bolsonaro. Muitas mortes poderiam ter sido evitadas, não fosse o negacionismo do governo no combate à covid-19, o atraso na compra de vacinas e as denúncias de corrupção reveladas pela CPI do Senado.
Também foi realizado o “Drive Thru Solidário” com arrecadação de alimentos não perecíveis para distribuição a famílias carentes da periferia. Sem o auxílio emergencial de R$ 600, aumentou a fome e a miséria no Brasil.
No ato ecumênico se manifestaram representantes de várias religiões, como o padre Edson Thomassim (Edinho), o bispo anglicano Humberto Maiztegui Gonçalves e a umbandista Tatiane Gil, que saíram em defesa da vida e da dignidade humana e contra as políticas de exclusão de Bolsonaro.
Só sairemos das ruas quando derrotarmos esse governo genocida
“Não dá para celebrar a nossa soberania e independência quando vendem as nossas estatais, quando querem entregar os direitos e serviços públicos, enquanto acabam com a Seguridade, com a saúde e com o direito ao trabalho”, criticou o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci. “Por isso, a gente denuncia e luta. Denuncia as mortes, mas anuncia a esperança porque nós não sairemos das ruas, porque as ruas são nosso lugar de luta e só vamos sair quando derrotarmos esse governo genocida.”
"Independência, mas para quem? Nós, mulheres, sempre fomos excluídas dos espaços de poder e decisão e hoje precisamos estar lutando em defesa da vida porque nunca tivemos a independência das nossas vidas",disse Fabiane Dutra, representante da União Brasileira de Mulheres. "Nós podemos contribuir com toda nossa força e luta. Durante essa pandemia o que aumentou para nós? O trabalho doméstico não remunerado. Temos que ocupar os espaços de poder e decisão para mudar isso", completou.
Com a mão esquerda estendida, Alex Cardoso, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), salientou os motivos da luta. “Nós lutamos por causa do amor. Com essa mão esquerda, nós juntamos indígenas, negras e negros, sem terra, sem teto, catadoras e catadores e fechamos nosso punho e é assim que a gente vai para a luta. Com chuva, com vento, não para o movimento; com sol, calor, não para o catador.”
Em nome da Via Campesina, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Jeronimo Pereira da Silva, conhecido como Xirú, saudou quem saiu de casa mesmo com chuva para fazer a luta. "A luta é dos trabalhadores e nós vamos, sim, seguir sempre na luta contra as privatizações e contra esse governo Bolsonaro." Ele denunciou o desmonte do Estado brasileiro, onde trabalhadores estão pagando o preço.
“Somos mais de 20 milhões de brasileiras e brasileiros que não tem o que comer. A situação ainda é pior entre as mulheres, as famílias negras de baixa renda”, recorda o presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul (Consea-RS), Juliano Sá. “Aqui no RS somos mais de 1,2 milhão de gaúchas e gaúchos que estão em situação de extrema pobreza, ou seja, que vivem com até R$ 89,00 por mês. Por esses e por essas que nós do Consea do RS nos somamos aos movimentos de igualdades. Só vamos superar essa fome, essa pandemia com união.”
Houve também manifestações de povos indígenas que cantaram e protestaram contra a tese do marco temporal, que está em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), e em defesa da demarcação dos territórios.
Plebiscito Popular
Houve ainda entrega da edição impressa do Brasil de Fato RS sobre a “Primavera da Democracia”, que divulga a realização do Plebiscito Popular sobre as privatizações no RS, marcado para o período de 16 a 23 de outubro.
Representando o Comitê do Plebiscito Popular, Ronaldo Schaeffer destacou a grande batalha frente ao governo que está “passando a boiada” em todos os setores. Para ele, a iniciativa é uma grande arma de pedagogia popular. “Precisamos acessar o povo e transformar essas bandeiras que para nós são políticas em bandeiras sociais. O plebiscito é uma ferramenta fantástica de exercício da democracia. Precisamos aproveitar essa primavera e fazer dela a Primavera da Democracia”, frisou.
A diretora da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Gabriela Frison, ressaltou que os estudantes estão desde 2018 nas ruas, resistindo ao governo Bolsonaro. “Tenho orgulho da minha gurizada que luta contra os cortes, contra esse governo fascista, neoliberal, que deixa o povo na miséria, na fome, morrendo sem educação, sem acesso à universidade.” Ao criticar o desmonte do ENEM, afirmou que a força do movimento estudantil e dos trabalhadores vai “derrubar esse genocida do poder”.
Fonte: CUT-RS