Brasil entre o luxo, a fome e a morte
O país que tem 65 pessoas na lista dos mais ricos do mundo também contabiliza 116,8 milhões de pessoas famintas e mais de 340 mil mortes por Covid-19.
No mês passado tivemos a divulgação do desempenho econômico brasileiro e, segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE), o país obteve um desempenho negativo (- 4%). Deixamos de gerar emprego, renda e bem-estar social. Perdemos parte do que já tínhamos conquistado, literalmente, regredimos.
O único setor que conseguiu um desempenho positivo foi a agropecuária, o que explica parte significativa do aumento dos preços dos alimentos. Tornamo-nos o “açougue do mundo”, que condena a metade da sua população à situação de insegurança alimentar, hoje, aproximadamente 19,1 milhões de brasileiros passam fome.
Nesse mesmo país que tem o derretimento da sua economia, em pleno contexto de pandemia, conseguiu colocar no ranking da Forbes, 11 novas pessoas que passaram, através do crivo de suas fortunas, a compor a lista dos bilionários do mundo.
É impossível ter acesso a essas informações e não ver nascer uma dezena de perguntas. Como não denunciar o escandaloso cenário de injustiça social? Segundo a Forbes, o “ranking dos Bilionários do Mundo 2021 revelou que o número de brasileiros no clube dos sete dígitos subiu de 45 – número registrado em 2020 – para 65. No total, os brasileiros detêm um patrimônio conjunto de US$ 219,1 bilhões, contra US$ 127,1 bilhões do ano passado”.
Já os dados divulgados pelo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil apontam que 55,2% dos lares brasileiros, ou o correspondente a 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020 e 9% deles vivenciaram insegurança alimentar grave, isto é, passaram fome.
O capitalismo tem disso e por isso, não é um modo de produção linear, em que o altruísmo e a benevolência do padeiro geraria uma sociedade de oportunidades, como esperava o pai do liberalismo econômico no século XVIII, Smith.
Em pleno século XXI, são 65 brasileiros com a fortuna na casa dos sete dígitos e, na contramão temos, 63 milhões de pessoas em risco de fome, esta fratura social exposta é fruto de uma política econômica neoliberal e evidência não apenas um erro administrativo político, mas a condenação de milhares à miséria quando não, à morte.
A condução da política econômica bolsonarista, exacerba a análise do sociólogo, Chico de Oliveira, que nos alertava no início deste século, submetidos a um regime de obsolência econômica (financeirizado) acelerada, concentrador de renda. A nova correlação de forças protagonizada pelo mercado, levaria ao desmanche dos direitos conquistados ao longo da história; a informalização do trabalho, a destruição da relação salarial e a semi-exclusão científica do país, nos colocaria numa sociedade derrotada.
A política econômica vigente, quanto mais “avançar” para apontar saídas, aumentará a contradição e a tensão social. É nesta “crista da onda” que está a possibilidade organizativa dos setores da esquerda.
Não é demais repetir que o Brasil atingiu o número assustador de mais de 340 mil mortes por Covid-19. O luto social prolongado, a realidade de sermos nesse momento o epicentro da epidemia está nos tornando um país triste, sombrio, isolado e com um futuro social, político e econômico, no mínimo duvidoso.
O cenário se agrava com muita velocidade e a sociedade brasileira encontra-se em total letargia. Há um grande descompasso em como nos vemos internamente e como o mundo nos enxerga, enquanto as forças políticas e partidárias estão preocupadas com processos eleitorais, o mundo nos identifica como uma ameaça global.
Sabemos que não existe “vácuo político” e a realidade clama pela mobilização popular, que está na ordem do dia como a única força de valência para conseguirmos conquistar as necessidades imediatas, como conquistar auxílio digno até o fim da pandemia, barrar a destruição em execução e a mudança da grande política, que molda os ditames para além da disputa orçamentária passada feito um “cheque sem fundo”.
As organizações necessitam dar um passo qualitativo e traçar estratégias unificadas para além da pauta eleitoral de 2022. A “Agenda da Fome” e seus desdobramentos ligados à estrutura segregadora e desigual, necessita ir para além da assistência, como uma luta permanente na taxação de grandes fortunas, assim como, a realização de atos transgressores que impossibilitem que a classe dominante fure a fila da vacina!
O grito #ForaBolsonaro, a afirmativa #VacinaParaTod@s precisam vir acompanhados do esforço coletivo para pensar e construir o que virá depois. O que apresentamos para colocar no lugar no governo de morte que tomou o poder? Precisamos seguir semeando esperança, o desafio é continuar pensando em como discutir enquanto povo uma nova proposta de sociedade.
É na luta popular que conseguimos tecer a mística da solidariedade que nos pulsa para a vida, neste momento mais do que nunca, devemos nutrir nossas relações de companheirismo, o acolher, cuidar e defender nossos direitos sociais, econômicos e ecológicos, são antídotos contra o derrotismo de saídas individuais impostas por esta cultura neoliberal.
A vida acima da dívida e do lucro!
Somos os povos, os credorxs!
Rede Jubileu Sul Brasil