Aumento do salário mínimo é instrumento importante de combate à estagnação econômica, diz professor de economia
O governo federal anunciou no último dia de 2015 o novo salário mínimo para 2016. Com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) batendo em 11.17% e o PIB de 2014 crescendo somente 0,1%, o valor ficou em R$ 880, o que significou um aumento real de apenas 0,46%.
A política de valorização do mínimo, em lei desde 2007, é uma bandeira das centrais sindicais, que pressionaram o governo Lula (PT), em meados de 2004, a adotar a prática para melhorar as condições dos trabalhadores.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mais de 48 milhões de pessoas tem o mínimo como referência de seus ganhos sendo que 22 milhões são beneficiários do INSS e 13 milhões são empregados. “Deve-se levar em conta também o contingente que tem a remuneração referenciada nele, como os trabalhadores autônomos, e esse aumento também pode levar as categorias e elevar o piso salarial”, indicou o diretor técnico do departamento, Clemente Ganz Lúcio.
Alguns setores no entanto, criticaram o aumento, apontando que ele criaria um “rombo” de R$ 2,9 bilhões nas contas do governo, que já vão fechar o ano no vermelho. João Sicsú, professor do departamento de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que as críticas nesse sentido nada tem de econômicas e são exclusivamente ideológicas.
“O que abala as contas do governo, primeiro, é a depressão econômica que estamos vivendo e a quantidade de juros que o governo paga. Se você gasta R$ 1 em juros, está jogando R$ 1 fora da economia, mas quando se gasta R$ 1 em um benefício da previdência vinculado ao salário mínimo, está ativando a economia. É um instrumento importante de combate a estagnação econômica”, explicou.
Lúcio também destaca que os desajustes nas contas do governo só vão melhorar com a volta do crescimento econômico e que a valorização do salário mínimo é uma medida anticíclica que pode fazer o governo passar a arrecadar mais, já que o dinheiro desse aumento se transformará em consumo.
“Para o gestor, o corte é sempre algo mais fácil, mas, por outro lado, preservar o crescimento do salário mínimo é preservar o próprio mercado interno, que é fundamental pra retomada econômica. Nesse sentido, a política é anticíclica no sentido de que ajuda a economia a sair da própria crise Não é cortando esses benefícios que você dinamiza a economia”, disse, reforçando que o governo deveria taxar os mais ricos, “que em geral entesouram suas riquezas e não as transformam nem em investimento, nem em consumo”.
Notícia boa
Durante todo o ano de 2015 centrais sindicais e movimentos populares foram as ruas para criticar o ajuste fiscal promovido pelo governo federal que, entre outras coisas, cortou verbas de programas como o Minha Casa Minha Vida e dificultou o acesso ao seguro desemprego.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Vagner Freitas considerou o aumento do salário mínimo uma “boa notícia” vinda do governo e espera que a agenda econômica do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, represente mudanças.
“O Brasil precisa de boas notícias como essa. Espero que o Nelson Barbosa venha com outras boas notícias como o aquecimento do mercado interno, barateamento do crédito, redução da taxa de juros, uma política de desenvolvimento pros setores que geram mais emprego e mais renda”, encerra.
Fonte: Brasil de Fato
Texto: Bruno Pavan
Data original da publicação: 05/01/2016