Ato de 1º de Maio em Porto Alegre reforça trabalho decente e redução dos juros
Centenas de pessoas celebraram o 1º de Maio, dia do trabalhador e da trabalhadora, durante o ato unificado com shows culturais, realizado na tarde ensolarada desta segunda-feira, na praça da Usina do Gasômetro, em Porto Alegre.
Organizado pela CUT-RS e centrais sindicais do Rio Grande do Sul, o evento reforçou as principais pautas da classe trabalhadora: “trabalho decente, renda, direitos, juros baixos, revoga Novo Ensino Médio e democracia”.
Além de pronunciamentos, cinco shows musicais animaram e embalaram os participantes: Feminejas, um grupo de mulheres que canta sertanejo, o rap de Dekilograma, o rock de Alquimia Voodoo, a banda do Sindicato dos Músicos do RS e o samba do Areal do Futuro. Só música de qualidade!
Houve ainda esquete teatral dos “Artistas na rua pela Democracia”, lembrando os desaparecidos políticos durante o golpe militar de 1964. Uma das faixas abertas dizia: “Pelo direito à memória, à verdade e à justiça. Pela abertura irrestrita dos arquivos da ditadura”.
No palco especialmente montado, a atriz Deborah Finocchiaro e a dirigente sindical Silvana Conti apresentaram os artistas e os representantes das centrais sindicais, dos partidos e dos movimentos sociais que se manifestaram ao longo do ato, que começou por volta das 14h30 e terminou após as 18h30, no início da noite na capital gaúcha.
Vários sindicatos montaram gazebos na praça para acolher os trabalhadores e as trabalhadoras e tratar de questões específicas das categorias.
Permanecer nas ruas, organizados e mobilizados
O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, destacou que “é preciso celebrar a resistência e barrar o fascismo”, lembrando que elegemos um presidente da República “com caráter popular”.
“A pauta que subiu a rampa do Planalto só vai acontecer se permanecermos nas ruas, organizados e mobilizados, porque é assim que se faz a luta e se conquista direitos e é assim que se avança no processo civilizatório”, avaliou.
Para Amarildo, “o presidente Lula precisa de nós nas ruas e não puxando o saco dele, mas apoiando as boas políticas e reivindicando mais”.
“Queremos trabalho decente, não queremos trabalho análogo à escravidão, não queremos terceirização da atividade-fim, nós queremos melhores salários e isenção de imposto de renda até R$ 5 mil, nós queremos isenção de impostos no consumo e botar os ricos, os milionários e os bilionários no imposto de renda”, ressaltou.
“E nós queremos baixar a taxa Selic porque é uma vergonha que um país tão desigual e tão pobre retire dinheiro do bolso do trabalhador e da trabalhadora para rentabilizar os especuladores, inclusive tirando do próprio capital produtivo. E nós queremos democracia com participação popular e queremos uma escola boa e não tem escola boa com esse novo ensino médio”, salientou.
O presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor, disse que o dia é especial. “A gente está aqui comemorando essa data do 1º de Maio como um marco histórico da luta dos trabalhadores e trabalhadoras do mundo inteiro, pela redução da jornada e melhores condições de trabalho, mas ao mesmo tempo estamos aqui desenvolvendo uma atividade cultural porque nós, trabalhadores e o povo brasileiro, merecemos também ter cultura”, disse.
A representante da Intersindical, Tamyres Figueira, lembrou dos anos de retrocessos, pontuando que “os trabalhadores tiveram um importante papel ao derrotar a extrema direita e o bolsonarismo” nas urnas. Para ela, a tarefa não acabou e são muitos os desafios, “pois os trabalhadores, as mulheres e os LGBTs precisam de dignidade”. Também expressou solidariedade ao MST, que vem sendo alvo de ataques do agronegócio e da extrema direita.
Ainda se manifestaram no palco representantes da Força Sindical, CSB, Pública e UGT, que destacaram também o aniversário de 80 anos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criada pelo presidente Getúlio Vargas, e golpeada pela reforma trabalhista do governo ilegítimo de Michel Temer (MDB), em 2017.
Trabalhadores de APP não têm feriado
A presidenta do Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativo do Rio Grande do Sul (Simtrapli-RS), Carina Trindade, lembrou que a categoria que representa, mesmo no feriadão, segue nas ruas trabalhando. “Eu vim para cá trabalhando, parei para vir fazer essa fala”, contou.
“Recebemos pouco, as empresas de aplicativo chegam a descontar 60% do valor de uma corrida e a gente recebe menos de 1 real por km rodado. Com o valor dos combustíveis toda hora subindo, a gente não tem como manter nosso carro, pagar aluguel e sustentar as nossas famílias”, destacou.
Carina anunciou que os motoristas de aplicativo vão fazer uma nova paralisação, no dia 15 de maio, por tarifa justa, pois as plataformas não querem conversar. “Vamos de novo para a rua fazer manifestação e, quem depender de aplicativo, não nos chame nesse dia para apoiar os trabalhadores que estão lá em busca de uma remuneração melhor e de direitos básicos”, disse.
Derrotamos o fascismo nas urnas
O diretor do Sindipetro-RS Dary Beck Filho disse que o dia é da classe trabalhadora e defendeu a importância das categorias organizadas estarem presentes na mobilização. “É um dia de reflexão, de lembrar, de festejar. Então é importante que estejamos aqui com os outros companheiros das várias categorias.”
A diretora do SindBancários Ana Guimaraens lembrou que a classe trabalhadora venceu a eleição presidencial, mas que ainda há um governo em disputa. “Várias forças se uniram para derrotar o fascismo e agora várias dessas forças têm visões diferentes do mundo e propostas diferentes. Nós que somos da clase trabalhadora temos que lutar pelas nossas pautas”, defendeu.
“E hoje o ato prestigia a cultura justamente para mostrar a diferença entre um governo que se importa com cultura e outro governo que a criminaliza”, completou.
O delegado sindical do Sindimoto-RS, Douglas Benites, questionou o “apelido ideológico” de entregadores pelo qual a categoria é chamada. “Nós somos motofretistas, mototaxistas e motociclistas profissionais, como é regulamentado na lei federal”, afirmou.
Para ele, o objetivo desse apelido “é romper a identificação do trabalhador que já estava organizado desde o início da década de 1990 e conquistou a regulamentação da atividade e diversas outras leis”.
“Hoje nós somos autônomos na visão do patrão, que não quer garantir direitos para nós, porque na relação de trabalho existe a configuração de vínculo empregatício. Com a legalidade da reforma trabalhista, eles aplicam essa máscara de vínculo que nos configura como autônomos, mas de autônomo não temos nada. Se tivéssemos autonomia teríamos dignidade, justiça e liberdade, e não temos nada disso”, explica.
Trabalho análogo à escravidão
A existência de situações análogas à escravidão não se restringe a trabalhadores nas colheitas da uva, da maça ou da cebola, dentre outras. Há várias categorias que enfrentam essa mesma dura realidade.
A presidenta da Associação das Domésticas de Canoas, Dinorá da Silva Nunes, contou que a entidade se fez presente no ato porque “nosso sindicato aqui em Porto Alegre não nos contempla, não reúne mais as trabalhadoras e o que a gente quer é unir as trabalhadoras”.
Ela destacou os dez anos da aprovação da lei que trouxe direitos para as trabalhadoras domésticas. “A gente percebe que tem muita coisa para ser feita, ainda tem companheiras em trabalho análogo à escravidão”, pontuou.
A promotora legal e técnica da Themis, Fabiane Lara do Santos, disse que a diversidade das pautas reunidas no ato “é reflexo dos últimos quatro anos de desgoverno”. Segundo ela, “é a primeira vez que estamos tendo um 1º de Maio com representatividade, com o nosso povo na rua feliz por ter vencido o fascismo”.
Elas aproveitaram para divulgar o aplicativo www.laudelina.com,br que traz os direitos das domésticas na palma da mão.
Perspectiva para alimentos sonhos e projetos de futuro
A presidenta da PT-RS, Juçara Dutra, disse que “é momento de unir forças para o combate à violência e aos efeitos dos quatro anos de políticas nefastas para o país, que esgarçaram o tecido social e que comprometeram as políticas públicas”.
“É um momento de retomada de uma esperança muito militante. Temos que recuperar todas as perdas que tivemos e oferecer uma perspectiva para a população brasileira, porque ela se alimenta de sonhos e projetos de futuro”, apontou Juçara.
O ato contou com a presença do ex-governador Olívio Dutra, do deputado federal Elvino Bohn Gass, da deputada federal Maria do Rosário, do deputado estadual Miguel Rossetto, da deputada estadual Sofia Cavedon e do vereador Jonas Reis, todos do PT, bem como da vereadora Abigail Pereira e do vereador Giovani Culau, ambos do PCdoB.
Fonte: CUT-RS