A tarefa histórica da minha geração é derrotar Bolsonaro, diz vice-presidenta da UNE
Neste 11 de agosto, Dia do Estudante, é também a data em que a União Nacional dos Estudantes (UNE) completa 84 anos. Criada no Rio de Janeiro, em 1937, com o objetivo de organizar uma entidade nacional representativa de estudantes, a UNE tem hoje na pauta que pede por “Fora Bolsonaro” uma bandeira unânime entre as suas diversas correntes políticas.
No último congresso, realizado no final de julho, a entidade elegeu pela primeira vez uma mulher negra como presidenta, a amazonense Bruna Brelaz, de 26 anos, e como vice-presidenta, a estudante carioca Julia Aguiar, de 25 anos.
Ao Brasil de Fato, a estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que o alinhamento das forças dentro da entidade é histórico e uma resposta à conjuntura política nacional.
“Dentre todas as diferenças de opiniões que existem na UNE, se sobressaiu a certeza de que Bolsonaro é maior que qualquer uma. É preciso derrotar esse governo neofacista que ameaça inclusive a existência da democracia em nosso país”, acrescenta.
Julia conheceu o movimento estudantil em 2013, ainda quando secundarista, e se envolveu nas lutas contra o aumento das passagens na capital carioca - estopim das mobilizações de junho daquele ano.
“Foi na luta que conheci o Levante Popular da Juventude, movimento que construo desde 2014. Entrei na universidade já com vontade de participar das atividades, tanto dos debates, quanto das lutas pelo bandejão para os campi do centro da cidade e mais assistência estudantil. Minha mãe e meu pai, professores da rede estadual, sempre estimularam debates sobre política em casa, o que me ajudou a crescer com um olhar crítico sobre o mundo”, conta.
Para ela, a entidade tem um grande desafio pela frente. “O papel da UNE é seguir com a luta que marcou sua fundação há 84 anos atrás: defender a democracia, os direitos sociais e a educação brasileira. Os estudantes são necessários para derrubar Bolsonaro e construir um novo projeto de educação e de país”, afirma.
Confira a entrevista completa:
Qual o papel a UNE tem no atual contexto político?
Desde que Bolsonaro assumiu a Presidência da República os estudantes se mostraram um dos setores mais mobilizados para resistir aos ataques implementados pelo projeto bolsonarista. Em 2019, ocupamos as ruas em grandes tsunamis da educação contra os cortes orçamentários, resistimos às nomeações antidemocráticas para as reitorias, organizando a resistência em cada universidade deste país.
Com a chegada da pandemia nos adaptamos à nova realidade. Defendemos a ciência e a necessidade de um plano emergencial para a educação em tempos de isolamento social – coisa que até hoje o MEC não fez. Lutamos pela aprovação do FUNDEB, derrubamos Weintraub, adiamos o ENEM, lutamos por bolsas e internet para geral.
Tivemos iniciativa e assumimos a tarefa de retornar às ruas nos atos pelo "Fora Bolsonaro". Nosso país atingiu a triste marca de mais de 500 mil mortes por coronavírus, enquanto a CPI da Covid desmascarava que a irresponsabilidade do governo não era apenas negacionismo, era também negócio: Bolsonaro está envolvido em esquemas de corrupção na compra das vacinas.
O papel da UNE é seguir com a luta que marcou sua fundação há 84 anos atrás: defender a democracia, os direitos sociais e a educação brasileira. Os estudantes são necessários para derrubar Bolsonaro e construir um novo projeto de educação e de país.
O que representa para você assumir a vice-presidência da UNE?
Um desafio imenso! A UNE marca a história do nosso país, esteve presente em todas as lutas do povo brasileiro. O movimento estudantil nunca hesitou em defender a democracia, os direitos sociais e a educação brasileira, sempre se mobilizando e construindo resistência mesmo nos momentos mais adversos.
Assumir a vice-presidência dessa entidade histórica, num momento de ataque à democracia, aos direitos e à educação é uma responsabilidade que tem exigido muita firmeza, sigo com convicção na tarefa histórica da minha geração que é derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. Sigo com brilho nos olhos e ciente do desafio que temos pela frente.
A nova presidenta da UNE foi eleita como a primeira mulher negra a assumir o cargo. Qual o significado dessa escolha?
Estamos fazendo história. Isso é resultado de uma longa luta do movimento estudantil e do movimento negro. Fico muito feliz de partilhar essa gestão com Bruna, mulher negra e amazonense, que é fruto da luta e da conquista de políticas públicas de democratização do acesso e permanência nas universidade brasileiras, como as cotas raciais e sociais.
Por isso, é fundamental que nós rompamos com essa lógica. Negras e negros, mulheres, LGBT’s, a diversidade da juventude classe trabalhadora ocupando a política em espaços de comando é um processo necessário que precisa se ampliar cada vez mais.
Como foi realizar o último congresso em meio à pandemia?
O congresso da UNE é o maior congresso estudantil da América Latina. Em tempos de normalidade costuma reunir cerca de 10 mil estudantes, delegados e delegadas do país inteiro, para dias de intensos debates, disputa de ideias, teses e eleição de sua nova diretoria. É um dos momentos mais ricos do movimento estudantil porque expressa sua pluralidade e porque acontece com eleições nas bases em todas as universidades do país.
Infelizmente, a realidade impossibilitou esse processo e optamos por realizar um congresso extraordinário da UNE de forma virtual, a partir da compreensão de que era necessário atualizar as linhas gerais de atuação da entidade e renovar sua diretoria para os novos desafios. Mesmo no meio virtual, os debates foram um marco no congresso com as salas de debates cheias, disputa de ideias e participação expressiva.
Assim como na política nacional, o último congresso da UNE sinaliza um alinhamento de forças políticas de diferentes campos com o objetivo de fazer oposição a Bolsonaro?
Sim! A unidade entorno da bandeira “Fora Bolsonaro” foi unanimidade e marcou esse congresso extraordinário. Dentre todas as diferenças de opiniões que existem na UNE, se sobressaiu a certeza de que Bolsonaro é maior que qualquer uma. É preciso derrotar esse governo neofacista que ameaça inclusive a existência da democracia em nosso país.
Como entrou para a militância e o movimento estudantil?
Conheci o movimento estudantil no ano de 2013, quando ainda era secundarista e me envolvi nas lutas contra o aumento das passagens no Rio de Janeiro, estopim das mobilizações de junho daquele ano.
Minha mãe e meu pai, professores da rede estadual, sempre estimularam debates sobre política em casa, o que me ajudou a crescer com um olhar crítico sobre o mundo.
Em 2013, fui aos atos e me encantei de cara a expressão gigante do movimento estudantil organizado. Foi na luta que conheci o Levante Popular da Juventude, movimento que construo desde 2014. Entrei na Universidade já com vontade de participar das atividades, tanto dos debates, quanto das lutas pelo bandejão para os campi do centro da cidade e mais assistência estudantil.
Me envolvi nas agendas e organização do Centro Acadêmico e, posteriormente, me envolvi na construção do DCE Mário Prata, onde fui diretora de movimentos sociais. Participei do congresso da UNE pela primeira vez em 2015.
Fonte: Brasil de Fato