Sindicalismo virtual

José Pastore e Magnus Ribas

Um dos problemas crônicos do sindicalismo brasileiro sempre foi o da baixa representatividade. Com exceção das categorias mais aguerridas (bancários, metalúrgicos, petroleiros, químicos e poucas outras), a grande maioria dos trabalhadores não se sentia representada pelos seus sindicatos. Quando convocados para as assembleias sindicais, onde se discutiam os termos dos acordos e convenções, poucos compareciam. Pagavam a contribuição sindical porque era obrigatória. Da mesma forma, pagavam a contribuição assistencial ou negocial porque era embutida nos acordos e convenções coletivas.

Com o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical trazida pela reforma trabalhista (Lei 13.467/2017), a maioria das entidades sindicais – sindicatos, federações e confederações – teve suas finanças abaladas. Muitas procuraram se unir com outras para não morrer. Outras morreram. Mas há novidades no front.

Por força das restrições impostas pela pandemia, os últimos meses têm sido marcados por uma aceleração vertiginosa das assembleias sindicais virtuais. Ao contrário das assembleias presenciais, estas têm contado com uma gigantesca participação dos empregados representados. Há casos em que mais de 60% de categorias grandes (bancários, por exemplo) participam e votam nas assembleias virtuais.

Ainda é cedo para visualizar todos os desdobramentos dessa nova prática. Mas algumas mudanças já são visíveis. As assembleias virtuais estão exigindo uma enorme preparação dos dirigentes sindicais. Afinal, milhares dos representados assistem a seus lances por meio nos telefones celulares ou computadores. Cada movimento passa a ser delicado e exige muita reflexão. Para os sindicalistas, nem pensar em atuar em conluio com os empregadores, como foi a prática do peleguismo durante décadas. No mundo virtual, a vigilância é rigorosa.

Com isso, o trabalho dos dirigentes sindicais se tornou mais intenso, exigindo argumentos sólidos e construídos passo a passo em reuniões preparatórias – também virtuais. Para cobrar a contribuição negocial referente aos seus serviços, estes precisam agradar a maioria dos representados. Numa palavra: aumentou muito a responsabilidade dos dirigentes sindicais.

Como a participação nas assembleias virtuais é geralmente por meio do WhatsApp, os sindicatos ficam com todos os números dos celulares dos participantes e, com base nisso, passam a manter com eles contato pessoal, direto e permanente para organizar movimentos e até fazer piquetes online como parte de uma greve.

Muitas mudanças estão ocorrendo do lado dos empregadores. Os empregados acompanham em tempo real os lances dos negociadores das empresas cuja situação econômica e de mercado eles conhecem bem. Os negociadores têm de estar bem preparados com dados e argumentos verdadeiros para resistir às pressões dos sindicatos. Do contrário, perdem a credibilidade de seus próprios colegas. Isso está exigindo um trabalho primoroso de comunicação com os empregados para esclarecer suas propostas e obter a adesão da base aos acordos. É um trabalho gigantesco de relações trabalhistas.

É bem provável que as assembleias virtuais crescerão mesmo depois de superada a pandemia junto com a intensificação da comunicação entre empregados e dirigentes sindicais via WhatsApp, redes sociais e outros meios. Este novo ambiente pode significar o alvorecer de um sindicalismo mais representativo, mais atuante, mais pragmático e menos teatral. É um novo desafio trazido pelas modernas tecnologias.

José Pastore e Magnus Ribas são membros do conselho de emprego e relações do trabalho da Fecomércio-SP, são, respectivamente, professor da FEA-USP e negociador trabalhista

FTMRS