Novo Fora Bolsonaro teve mais público e mídia, mas ainda poucos trabalhadores. O que fazer?

Igor Felippe Santos

As manifestações de 19 de junho foram expressivas, com a mobilização de mais de 750 mil pessoas em mais de 400 municípios. Em comparação com a jornada de 29 de maio, houve um quantitativo, especialmente à expansão em novas cidades.

A marca de 500 mil mortos pelo coronavírus impulsionou a repercussão nas redes sociais. Foram mais de 202 mil pessoas comentando o assunto no Twitter, com mais de 1,8 milhão de postagens, segundo análise do professor Fábio Malini. O campo de oposição se dividiu em três agrupamentos: organizações e lideranças políticas, imprensa/jornalistas e artistas/figuras públicas. Já o bolsonarismo ficou isolado, movimentando apenas 20% das postagens.

A TV cobriu os atos desde a manhã, apresentando as pautas do protesto e as organizações responsáveis pela convocação (Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo e Coalizão Negra). Também deu a devida a dimensão dos atos, com tomadas dos carros de som e imagens aéreas. No domingo, os principais jornais registraram na capa fotos e fizeram matérias sobre a manifestação.

Também foram reconhecidas as preocupações com as medidas sanitárias. A imprensa registrou, mais uma vez, que os manifestantes usavam máscaras (ao contrário dos protestos bolsonaristas) e que os organizadores reforçavam a necessidade de manter distanciamento e usar álcool gel.

Este último protesto, entretanto, não representou um salto de qualidade.

Os atos nas capitais não tiveram um crescimento expressivo — mesmo com a ampliação de entidades convocando o protesto. O perfil de manifestantes nas grandes cidades foi muito próximo ao da jornada anterior, com segmentos dos setores médios, juventude estudantil e lideranças das organizações da classe trabalhadora. Ou seja, houve uma “ampliação horizontal” nessas camadas, com baixa participação da classe trabalhadora.

A convocação da primeira manifestação, no dia 29 de maio, marcou uma virada na conjuntura, mais favorável às forças populares. Por isso, as manifestações de maio tiveram um efeito excepcional: geraram curiosidade e surpresa, mobilizaram milhares de pessoas pelo País. Isso também é fruto do efeito psicossocial de sair às ruas pela primeira vez para protestar, colocando para fora a indignação com o governo.

Na comparação, os protestos de 19 de junho tiveram um impacto político-social menor. Esse diagnóstico multiplica os desafios para as forças populares. Deve-se evitar uma certa “banalização”, não convocando atos em um curto período de tempo, com um número de participantes parecido e as mesmas pautas. Mais do que fazer articulações com a centro-direita não bolsonarista, que está bastante enfraquecida no cenário político, para aumentar o público desses protestos é preciso atrair segmentos da massa de trabalhadores.

Para dar este necessário salto, é preciso intensificar o processo de mobilização, com a adesão das centrais sindicais, e o trabalho nos bairros mais populares, envolvendo camadas maiores da classe trabalhadora, o que talvez seja possível apenas depois que a vacinação chegar à maior parte da população.

As bandeiras das manifestações, que têm unidade na palavra de ordem “Fora Bolsonaro”, precisam ganhar maior concretude, expressando os problemas vividos pelas maiorias e apresentando propostas possíveis, que façam sentido para os segmentos que se movem a partir de interesses econômicos.

Igor Felippe Santos é jornalista e atua em movimentos populares

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