Notícias Alarmistas

Luciano Costa - Observatório da Imprensa

4/12/2008
Notícias alarmistas

Os jornais cravam bastante atenção no desempenho da indústria e reproduzem previsões de aumento do desemprego no primeiro trimestre de 2009. A Folha de S.Paulo repete uma expressão catastrofista do vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, segundo o qual o setor vai passar por uma "carnificina" de empregos.

O ministro do Trabalho Carlos Lupi faz previsão semelhante, defendendo a redução dos juros, pelo efeito psicológico que pode exercer sobre as decisões das empresas.

Recentemente, diretores de grandes jornais reunidos em São Paulo admitiram que a imprensa andou se antecipando nas análises sobre os efeitos da crise financeira americana no Brasil. Na ocasião, pelo menos dois deles observaram que o noticiário negativo chegou antes dos fatos negativos, sem a devida contextualização [ver, neste Observatório, "Um melancólico olhar para dentro"].

As edições de quinta-feira (4) dos jornais são um bom exemplo: enquanto a imprensa internacional especializada começa a enxergar o período de estabilidade que pode estar além da crise, os jornais brasileiros ainda reforçam o clima de pessimismo.

Sem contexto

Não se diga que a imprensa devesse se comportar como Poliana, personagem do romance da americana Eleanor Porter que sempre vê o mundo em cor-de-rosa. Trata-se da necessidade de o noticiário econômico buscar mais precisão em reportagens que podem afetar a disposição dos agentes econômicos para seguir tocando seus negócios.

Por exemplo, o noticiário de quinta-feira sobre previsões de desemprego fala de setores que estão com suas atividades em desaceleração, mas não esclarece o peso desses setores no conjunto da oferta de empregos.

A indústria automobilística, citada constantemente no noticiário da crise, há muito tempo deixou de ser intensiva em mão-de-obra.

Além disso, seria conveniente esclarecer o aspecto da redução de ritmo que sempre acontece em determinadas atividades no final do ano.

Notícia negativa sem contextualização é puro alarmismo

FTMRS