LULA SOBE PARA 100%

Urariano Mota

LULA SOBE PARA 100%

É claro, todo o mundo já sabe da última pesquisa CNI/Ibope, divulgada esta semana (26/9/2009). O problema é que a maioria apenas sabe os números que assim foram anunciados:

“Pesquisa // Aprovação a Lula sobe para 81%"

A avaliação positiva ao governo Lula subiu em setembro, atingindo 69%, de acordo com a pesquisa CNI/Ibope, divulgada ontem. No levantamento de junho, o índice de ótimo/bom para o governo Lula era de 68%. A oscilação ocorreu dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos porcentuais. A avaliação regular ao governo Lula caiu de 24% para 22%, na mesma base de comparação, enquanto o índice de ruim/péssimo subiu de 8% para 9%. A aprovação pessoal ao presidente Lula subiu de 80% para 81%, mas a desaprovação também subiu, passando de 16% para 17%, entre junho e setembro. A pesquisa CNI/Ibope foi realizada no período de 11 a 14 de setembro e ouviu 2.002 pessoas, em 142 municípios brasileiros”.

Coisa boa é duvidar do que os olhos vêem e não sentem. Pois quando associei essa notícia ao que antes estava na memória, topei com uma lacuna, um vazio, que buscava matéria para virar fenômeno. E me perguntei: como será que o Nordeste brasileiro traduz esses 81%? Então fui, entrei no corpo da pesquisa, que pode ser vista em

http://www.cni.org.br/portal/data/pages/FF80808121B718120121B73D14D55859.htm#

E vi, amigos, eu vi um fato impressionante, que até agora não virou notícia: na região nordestina, Lula possui uma aceitação de 95%. E mais: se se leva em conta a margem de erro de 2%, o presidente Lula atravessa “hoje”, de 11 a 14 de setembro, o seguinte dilema: sou aprovado por 93 ou 97% dos nordestinos? Pelo que o colunista tem visto, o melhor é arriscar vermelho 97.

E podemos acrescentar sem medo: a tendência – porque Lula não para de crescer – é chegar aos 100%. Ou melhor, ele já pode ter chegado aos 99,5% , se levarmos em conta o chamado “intervalo de confiança”. O que é, para dizer o mínimo, uma unanimidade absoluta. Ou quase, porque às vezes a gente encontra quem pergunta, afirma e acusa em um só movimento: “Você já foi entrevistado pelo Ibope? Eu nunca fui! Nenhum dos meus amigos, parentes ou conhecidos, nenhum foi entrevistado pelo Ibope até hoje. Esses 97% são uma grande mentira”. E 100%? “Danou-se”. De nada vai adiantar responder que para a estatística, que rege as pesquisas, de nada interessa o indivíduo isolado, mas só os grupos, conjuntos, porque seu objetivo é o estudo da população. “Sim, mas por que jamais a pesquisa atingiu o grupo que inclui a minha rua?”, voltarão. Ou Voltaren, que pode curar dor de reacionário.

Um economista, um estatístico, bem que lhes poderia dizer : “Indivíduo , há uma teoria da amostragem”. Ao que voltarão: “como é possível descobrir o que pensa a totalidade das pessoas quando se interroga apenas um pequeno número delas? E por que nunca fui escolhido para uma entrevista sobre Lula?” Ao que lhes poderá ser ensinado: “Indivíduo, a probabilidade de você vir a ser escolhido é semelhante à de ganhar na loteria”. Ao que o invencível descrente dos prováveis 100% de Lula voltará, sem voltaren: “Na minha rua, na minha família, no meu trabalho, aonde vou, ninguém apoia Lula. Ninguém”. De que adiantará responder-lhes que segundo a Lei dos Grandes Números, as respostas falsas – as do seu grupo - serão compensadas pelo conjunto de todos os grupos? De nada.

Melhor e mais simples será dizer-lhes que não devem confundir a realidade do povo com a opinião do comentarista da televisão, aquele âncora de boca torta que se pendura em coisa nenhuma. E se não acreditam na estatística e na Lei dos Grandes Números, que saiam da sua rua, do seu clube, e sigam para o mercado público e feiras livres. Lá, sem que conheçam inglês, todos já traduziram a manchete da Newsweek, “Lula, o político mais popular da terra”. Ou, conforme a língua do club, The Most Popular Politician on Earth”.



Por: Urariano Mota, escritor, jornalista, autor de "Soledad no Recife", recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do traidor Cabo Anselmo, executada pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, com o auxílio do próprio Anselmo, durante a Ditadura Militar (1964-1985).

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