AS PERCEPÇÕES SOBRE A CRISE ECONÔMICA

Ricardo Patah - DCI

Ricardo Patah - DCI

A crise financeira mundial é gravíssima e preocupa os trabalhadores brasileiros. Principalmente, por seu aspecto relacionado com a percepção dos cenários possíveis. Seja pelos exageros otimistas, quando chegaram a classificá-la de marolinha. Seja pela antecipação pessimista de suas consequências, com empresários de vários setores se aproveitando da situação para justificar demissões e arrochos salariais.

Por exemplo, o volume de vendas do comércio varejista (comércio de combustíveis, alimentos, bebidas, artigos farmacêuticos, vestuário, calçados, móveis, eletrodomésticos, material de escritório, livros, papelaria etc.) teve um aumento de 10,3% entre dezembro de 2008 e o mesmo mês no ano anterior, segundo o Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV)

Mas os empresários do setor se esconderam atrás da crise para impor aos trabalhadores do setor uma das piores negociações salariais que conseguiram fechar nos últimos dez anos. Ou seja, para os trabalhadores do setor varejista, a percepção pessimista dos patrões se transformou num prejuízo real, ainda mais por ter sido seguida de demissões pontuais ou redução de contratações.

Por um erro de percepção, a Vale do Rio Doce demitiu, apressadamente, 1.300 trabalhadores, em novembro do ano passado, no ápice das notícias ruins relacionadas com a crise mundial. Para só depois calcular os prejuízos que tal decisão causou à imagem da mineradora e voltar atrás em páginas inteiras nos jornais do País, anunciando a criação de 10 mil novos empregos até 2011 e afirmando que contratou 5 mil novos empregados ao longo de 2008. Infelizmente, a Vale não anunciou a recontratação dos 1.300 trabalhadores demitidos em novembro.

Neste 2009, os trabalhadores brasileiros desejam que o bom senso predomine. Vamos avaliar todos os sintomas da crise, setor por setor. Colocar nas mesas de negociações nossa preocupação com a manutenção do emprego e da renda. Radicalizar na transparência das negociações, que serão acompanhadas de perto pelos respectivos sindicatos. E apostar na preservação do mercado interno como uma das principais opções para minorar as consequências malignas da crise econômica mundial.

Segundo levantamento, da Fundação Getulio Vargas (FGV), 31% das 137 indústrias voltadas para o mercado interno trabalhavam, em novembro, com cenário melhor para os negócios até maio. Enquanto isso, só 3% das 68 empresas exportadoras estavam otimistas e 22% das 1.112 indústrias como um todo tinham a mesma expectativa. O que a FGV fez foi buscar uma avaliação realista, sem alarmes, e, principalmente, sem embutir as percepções exageradamente otimistas ou pessimistas em relação às dificuldades à frente.

Se cada setor adotar o Brasil e seu mercado interno como principal referência para organizar o enfrentamento da crise, teremos a chance de atravessar 2009 gerenciando as dificuldades, que serão muitas, mas sem entrar em pânico, sem gerar prejuízos ao nos apoiarmos em percepções exageradamente otimistas (que é ruim) ou antecipadamente alarmistas.

Os 524 sindicatos filiados à UGT estão preparados para, ao longo do ano, discutir a crise, item por item, com os empresários. Prontos para buscar alternativas que preservem, prioritariamente, o emprego, a renda e a sobrevivência das empresas. Porque empresas fechadas são vagas perdidas definitivamente.

Nosso alerta é para que evitemos acelerar a crise ao nos apoiar, com ou sem segundas intenções, nas percepções maléficas da atual situação. Destacar, do contexto geral, o que de fato precisa ser renegociado e revisto dentro da perspectiva da crise. E buscar, juntos, trabalhadores e empregadores, soluções de equilíbrio que preservem o mercado interno, a irrigação do crédito e, insisto, a manutenção do emprego e da renda. Porque uma coisa é certa: a crise passará. O Brasil continuará com sua opinião pública cada vez mais atenta. E disposta a recompensar as empresas que tiverem a serenidade de, com seus colaboradores e consumidores, buscar uma solução honrosa e patriótica para as dificuldades.

FTMRS