A imprenscindível política industrial


Falar em política industrial tem se assemelhado a "estarmos pronunciando nome feio". Talvez expeditamente as coisas se expliquem, pois em modelos de desenvolvimento de alguns países e/ou setores, o eixo centrado na financeirização e comercialização tem se notabilizado.

Essa inflexão fica agravada quando se trata de territórios periféricos, aqueles que não comandam a economia mundial e têm um Índice de Desenvolvimento Humano muito baixo. Neles, o terceiro eixo, o industrial, torna-se absolutamente imprescindível.

Fundamentalmente por não deterem acúmulo e soberania científico-técnica, que serviu de passaporte para países avançados passarem dos modelos da segunda ou terceira revoluções industriais à chamada 4.0. Aquela em que os principais ativos são os intangíveis, como o conhecimento e o saber.

Estamos vivenciando uma dinâmica de desindustrialização que nações desenvolvidas experimentaram outrora, mas souberam enfrentar. E hoje já transformam esse intátil potencial da sapiência em valor às suas organizações e à sociedade.

Quando a questão industrial fica secundarizada, de duas, uma: ou se é refém de modelos superados, ou se tem que renunciar avanços e ficar à margem do concerto mundial. É o caso do Brasil no tema da microeletrônica e na fabricação de chips – em escassez mundial – renunciando inclusive o acervo e os investimentos já feitos. Vale o mesmo para os temas ecológicos e de energias limpas.

Só com um diagnóstico preciso da premência de uma política industrial com base nos ativos intangíveis, com instrumentos de financiamento e indução para tal, é que poderemos ressignificar o setor produtivo nacional, sintonizando-o com os novos tempos.

Do contrário, estaremos naufragando na visão ideológica anti-indústria local, que acredita que o país não deve inovar, e mais, não necessita de desenvolvimento científico, tecnológico e sustentável endógeno, pois pode buscar tudo fora. Equilibrando-se instavelmente na estratégia das commodities, que só amplifica a já em curso "modernização" dependente e submissa.

Lamentavelmente, a tragédia pandêmica com suas perdas irreparáveis explicitou muito disso, mesmo com todo o potencial de nossa biodiversidade e com as enormes possibilidades para uma política industrial de novo tipo que a era do conhecimento descortinou.

 

Adão Villaverde é engenheiro, professor de Gestão de Conhecimento e da Inovação e ex-presidente da Assembleia Legislativa do RS

 

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